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Artistas por Províncias

Província do Moxico

O nome "Moxico" deriva da palavra "Muxiko", que designa um cesto tradicional usado pelos povos locais para transportar víveres e, em contextos de resistência, armas. Segundo o historiador Francisco Chiwende, o termo foi adotado pelo soba local, simbolizando sua autoridade como o "receptáculo de todas as questões da sua jurisdição". Inicialmente, "Muxiko" referia-se apenas à área conhecida como Moxico-Velho, mas com o tempo passou a designar todo o território entre os rios Zambeze e Lungué-Bungo.

Antes de influências externas, Moxico era habitado por diversos povos bantos, com destaque para as etnias chócue, lunda, ganguela e, em menor escala, luba. Esses grupos começaram a se organizar politicamente a partir do século XVI, formando estruturas complexas que moldaram a identidade da região.

Formação do Reino Lunda
Em 1590, o rei Muanta Gandi unificou a região leste de Angola, incluindo Moxico, com partes do que hoje são a República Democrática do Congo e a Zâmbia, fundando o Reino Lunda. Com sede inicial em Mussumba (atual sul do Congo), esse reino tornou-se um poderoso estado, centralizando o poder político e promovendo a integração cultural entre os povos bantos. O Reino Lunda era estruturado com uma hierarquia clara, onde o rei, ou Muanta, exercia autoridade sobre chefes locais, os sobas, que governavam comunidades menores.

No século XVII, o Reino Lunda evoluiu para o 1º Império Lunda, uma confederação de estados sob liderança centralizada. Conflitos internos, especialmente guerras de sucessão pelo trono da rainha Lueji A'Nkonde, levaram à fragmentação do império. Dessa divisão surgiu o Reino Lunda-Chócue, com sede em Luena, que se tornou o principal ente confederado na região do Moxico. Este reino, centrado em Luena e com influência em Saurimo, consolidou uma forte identidade cultural e política, marcada por práticas administrativas sofisticadas e redes de comércio.

No século XIX, o Reino Lunda-Chócue liderou esforços para formar um 2º Império Lunda, buscando reunificar os territórios fragmentados. Esse novo império enfrentou desafios devido a pressões externas e divisões internas, que culminaram no seu enfraquecimento.

Os povos do Moxico, como os chócues, lundas e ganguelas, desenvolveram ricas tradições culturais. Um exemplo é o lamelofone, um instrumento musical de cinco teclas feito de material vegetal, registrado no século XIX como artefato arqueológico dos povos luvales. Esse instrumento reflete a sofisticação artística da região, usado em cerimônias e celebrações comunitárias. A economia era baseada na agricultura, com cultivo de milho, mandioca e massango, e na pecuária, com criação de gado, que desempenhava um papel central na alimentação e no comércio.

As práticas sociais eram organizadas em torno de sistemas matrilineares, especialmente entre os lundas, onde a descendência e a herança eram transmitidas pela linha materna. As comunidades eram lideradas por sobas, que mediavam conflitos, organizavam a produção agrícola e garantiam a coesão social. A espiritualidade desempenhava um papel central, com crenças animistas que reverenciavam ancestrais e forças da natureza, expressas em rituais e danças tradicionais.

Período da Guerra Civil
A história moderna do Moxico foi profundamente marcada por conflitos, que transformaram a província em um palco estratégico de disputas políticas e militares.

Em 1966, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) abriu a "Frente Leste" no Moxico, expandindo significativamente suas operações nacionalistas. A província, com sua vasta extensão territorial e localização estratégica, tornou-se um reduto crucial para o movimento. Até o final de 1967, o MPLA consolidou o controle de grande parte do Moxico, usando a região como base para lançar ataques em áreas vizinhas, como as províncias de Lunda Sul, Lunda Norte, Bié e Cuando-Cubango. A geografia do Moxico, com suas florestas de miombo e terrenos de difícil acesso, favoreceu as táticas de guerrilha do MPLA.

Guerra Civil Angolana (1975–2002)
Moxico tornou-se um dos principais campos de batalha da Guerra Civil. Em 1973, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) iniciou uma campanha militar no leste do país, buscando tomar áreas controladas pelo MPLA. A UNITA conseguiu ocupar temporariamente cidades como Cangonga, Cangumbe, Chicala e Luena em 1975. No entanto, a resistência do MPLA, apoiada pelas Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), levou à reconquista de Luena em 15 de fevereiro de 1976. Até o final de fevereiro de 1976, o controle da província foi restaurado pelas FAPLA.

Durante a Guerra Civil, Moxico sofreu devastação social e econômica. As infraestruturas foram destruídas, e muitas comunidades foram deslocadas. A província, no entanto, continuou a ser um ponto estratégico devido à sua posição geográfica e à presença do Caminho de Ferro de Benguela, que conectava o interior ao litoral.

Pós-Guerras e Atualidade
Após o fim da Guerra Civil em 2002, Moxico entrou em uma fase de reconstrução e desenvolvimento. Como a maior província em área territorial de Angola, com 223.023 km² antes da reforma administrativa de 2024, Moxico enfrentou desafios para integrar suas vastas regiões e promover o desenvolvimento socioeconômico. A reforma de 2024 resultou na criação da província do Moxico Leste, reduzindo o território original, mas mantendo Moxico como uma das maiores províncias do país.

Demografia e Cultura
A população do Moxico, estimada em 854.258 habitantes em 2018, é composta principalmente pelas etnias chócue e ganguela, com presença significativa de ovimbundos, lundas, ambundos e grupos menores como vambundas, além de comunidades miscigenadas. A diversidade cultural se reflete nas práticas tradicionais, como danças, rituais e a produção artesanal, que continuam a desempenhar um papel importante na identidade local.

Economia
A economia do Moxico é historicamente baseada na agricultura, com cultivos de massango, batata-doce, arroz, mandioca e milho, além de pomares de citrinos e goiabas. A pecuária é outro pilar, com criação de bovinos, ovinos, caprinos e suínos, voltada para a produção de carne e leite. A pesca artesanal é significativa, especialmente nas estações chuvosas, quando os rios e lagos, como o Cuando, Lungué-Bungo e Luena, transborda, criando vastas áreas alagadas ricas em recursos pesqueiros.

Nos últimos anos, Moxico viu um crescimento nas atividades industriais, especialmente na agroindústria (processamento de carne, leite e ovos), além de setores como vestuário, moveleiro e materiais de construção. A mineração também ganhou relevância, com a extração de carvão, cobre, manganês, ferro, diamantes, ouro, volfrâmio, estanho, molibdênio, urânio e lenhite. O comércio atacadista e os serviços, concentrados em Luena, Léua e Cangamba, complementam a economia, enquanto o Caminho de Ferro de Benguela e as rodovias reforçam a logística.

Ecologia e Geografia
Moxico é caracterizado por sua diversidade geográfica e ecológica. A ecorregião das florestas de miombo angolanas domina o centro, norte, oeste e sul, com savanas de folha larga e pastagens abertas. No leste e sudeste, as planícies de Barotse-Liuva abrigam zonas pantanosas e vegetação herbácea. A hidrografia é marcada por rios como o Lungué-Bungo, Luanguingo, Luena e Cuando, além de lagos como Liassa, Capaco e Cachucue. O relevo varia entre o Planalto Central de Angola, com áreas de altiplanos, e as extensas planícies de Barotse.

O clima subtropical úmido (Cwa) predomina, com temperaturas médias anuais entre 22°C e 24°C, favorecendo a agricultura e a biodiversidade.

Cultura e Lazer
A cultura do Moxico é vibrante, com forte influência das tradições bantas. As manifestações culturais incluem danças tradicionais, como as dos povos chócue e ganguela, e cerimônias que celebram a conexão com a natureza e os ancestrais. As planícies de Barotse são um ponto de lazer, especialmente para a pesca desportiva, devido à abundância de rios e lagos. A província também preserva práticas artesanais, como a produção de cestos (muxiko) e instrumentos musicais, que refletem sua herança cultural.

Total de Artistas
3
Práticas Artísticas
2
Governadores
0
Municípios
12
Extensão Territorial
223.023 km²

Aprecie a beleza artística do Moxico e suas conquistas enquanto província que respira e pratica arte no cenário nacional, impulsionado pelo apoio da sua gente e pelo empenho das administrações locais que valorizam profundamente a arte em todas as suas expressões.